Keiko Fukuda tem 98 anos e, na academia de judô, ostenta uma faixa vermelha que significa que alcançou o que poucas pessoas conseguem nessa arte marcial. A japonesa, que mora em São Francisco, nos Estados Unidos, acaba de ser promovida a décimo dan – a mais alta graduação do judô – pela USA Judo (organização que reúne praticantes da modalidade nos Estados Unidos). É a primeira mulher a chegar a esse nível.
Keiko dá aulas três vezes por semana. Ela observa os alunos sentada em uma cadeira de rodas, mas, quando os judocas não estão fazendo bem um movimento, não hesita em levantar e demonstrar o golpe. Tem autoridade para dizer que sabe exatamente como deve ser feito, já que entrou no judô a convite de Jigoro Kano, o fundador da arte, aos 21 anos. Keiko é a última discípula de Kano viva.
O jornal San Francisco Chronicle publicou um perfil de Keiko no mês passado. O texto conta a vida dedicada ao judô e ao fim do preconceito contra as mulheres nos tatames. Keiko abriu mão do casamento arranjado por sua família para trabalhar na divulgação do judô pelo mundo. A história vai virar um documentário, previsto para ser lançado no ano que vem. No filme, ela se emociona ao lembrar sua opção pela arte marcial: “Minha vida foi definida naquele momento: casar ou viver pelo judô. Escolhi o judô, e não esperava que fosse se prolongar por tanto tempo".
Após mais de 70 anos aprimorando sua luta, ainda há mais um degrau para Keiko atingir o nível máximo da tradição do judô: o décimo dan pela Kodokan. Somente 15 homens na história conseguiram esse feito. Quando Keiko obteve o nono dan, em 2006, os três mestres que eram nono dan foram elevados a décimo. A professora enfrenta com paciência o domínio masculino. Ela já passou 30 anos estacionada em um nível, no quinto dan, ao que chegou em 1951 e era considerado o máximo para as mulheres.
Fonte: Revista Época - agosto 2011
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